- 16/12/1931
- 09/03/2022
Padre Luigi Risso, MSC
Em Roma, o lar de Enrico Risso e Ângela Vitanzi Risso ganhou um menino, no dia 16 de dezembro de 1931. Recebeu o nome de Luís, apesar de não ser a vontade da mãe, em respeito a tradição que havia na família, onde o primeiro filho deveria receber o nome do avô. O casal teve mais três filhos, Paulo, Giancarlo e Beatriz.
O menino gostava de brincar com as coisas simples da época, mas o seu brinquedo preferido era jogar bola. Aos 6 anos iniciou os estudos. O pai era oficial militar, a família viajou muito para acompanhá-lo e Luís teve que estudar em várias escolas, em cidades diferentes.
Aos 9 anos recebeu a primeira comunhão junto com seus irmãos. Desde pequeno sonhava em ser militar do exército e satisfazer o sonho do pai que desejava um filho com a mesma profissão que a sua. Logo despertou para a vida religiosa e foi tomado pela dúvida se seria militar das forças aéreas ou sacerdote.
Tinha em mente uma congregação especifica, admirava a ordem dos jesuítas que possuía regras semelhantes a um sistema militar. O Sr. Enrico não concordou com a decisão, pois não queria perder o filho. Alguns familiares, apesar de apoiarem a deliberação do menino, não acreditavam que aquela criatura traquina e que não gostava de estudar, tinha capacidade de se tornar padre.
Aos 12 anos tomou uma decisão importante, iniciou o caminho da formação religiosa, dedicou-se as funções de coroinha e auxiliava missas. Levava tão a sério as suas atribuições que passou a acrescentar, à sua assinatura, a sigla dos Missionários do Sagrado Coração, MSC.
Quando cursava o 4º ano do ginásio desejou entrar num seminário. Dias antes de iniciar o 5º ano do ginásio em 26 de julho de 1950 recebeu autorização do pai para ingressar no seminário e estudar na Escola Apostólica.
A princípio teve dificuldades de obedecer às regras e os horários determinados para as tarefas, mas aos poucos se acostumou. Estudou filosofia e teologia e no dia 08 de setembro de 1951 tornou-se MSC (Missionário do Sagrado Coração).
No dia 23 de agosto de 1959 ordenou-se padre MSC, na cidade de Oleggio, na Itália. Dedicou-se com afinco a sua função religiosa, realizando casamentos, ouvindo confissões e celebrando missas aos domingos. Possuía grande estima às crianças, idosos e doentes e prestava assistência a todos.
Solicitou ao provincial que o encaminhasse para a missão da ordem no Brasil. Seu pedido foi atendido e designado para a Prelazia de Pinheiro. Chegou ao Rio de Janeiro em 8 de dezembro de 1960. Viajou para Carutapera, no Maranhão, para dirigir a cerimônia da inauguração da igreja que havia sido construída por Pe. Augusto Mozzetti, um MSC.
Desembarcou em São Luís em 06 de janeiro de 1961. Encontrou com o vigário de Pinheiro, padre Luís Zecchinato que lhe descreveu a cidade com ruas asfaltadas e limpas. Era apenas uma brincadeira, mas Pe. Risso acreditou com convicção.
Após a viagem em avião teco-teco desembarcou no aeroporto de Pinheiro. Ficou assustado com a precariedade da estação de passageiros que mais parecia um barracão. A Rua Grande, empiçarrada com muita poeira e grandes buracos, completou a péssima impressão que sentiu. Só pensava em sair deste lugar e retornar para onde tinha vindo. Nunca haveria de ficar durante os 5 anos estabelecidos pela sua congregação!
O padre Luís Zecchinato, havia divido a cidade em três áreas. A igreja de Santo Inácio permaneceria com o vigário e a de São Benedito com o padre Humberto Giungarelli. A Igreja de São José, no Bairro do Fomento, foi entregue para o padre Risso que celebrava as missas na igrejinha humilde, construída pelo comerciante Edgar Cordeiro. A madeira do telhado era de paparaúba amarrada com fio elétrico. O padre realizou pequenas mudanças no local para tornar a igreja mais prática e acolhedora.
Nos primeiros quatro anos, gostava de jogar futebol e participava de times da cidade. Quando jogava no Estádio Costa Rodrigues o local se enchia de curiosos, todos queriam ver um padre jogar bola. Tomava banhos no Rio Pericumã em companhia de alunos do Ginásio Pinheirense.
Realizava missas na igreja São José e fazia algumas desobrigas, de jipe, durante o verão. As Irmãs Josefinas, recém-chegadas a Pinheiro, iniciaram um trabalho com as crianças da comunidade do Fomento.
No dia 22 de agosto de 1965, durante uma missa, numa tarde de domingo, quando comemorava o aniversário de seu sacerdócio, o telhado da igreja desabou, devido a fortes chuvas e ventanias. O local estava repleto de crianças. Muitas ficaram feridas e uma menina de 7 anos faleceu em consequência dos ferimentos. A cidade foi tomada pela comoção!
Após o acidente, munido de ferramentas iniciou sozinho, a demolição das paredes da igreja. Operários do bairro ajudaram-no na retirada dos entulhos e com a participação dos moradores o trabalho progrediu. A partir dessa data a sua vida mudou, abandonou completamente o futebol e empenhou-se com afinco nas suas funções.
Incentivou a comunidade a fazer campanhas para arrecadar recursos financeiros para a reconstrução da igreja, dedicou-se a fazer cartas e enviar fotografias para seus conterrâneos, na Itália. O primeiro pedido de recursos foi para a mãe, D. Ângela Risso, que com ajuda do vigário de Roma fez uma coleta entres amigos. O dinheiro arrecadado só deu para comprar as telhas da igreja.
Ao mesmo tempo em que desenvolvia as ações sociais e materiais, o Pe. Risso intensificava a evangelização proposta pela ação missionária. Estendeu as desobrigas a lugares mais distantes tanto no inverno, como no verão. Levava até a zona rural os sacramentos e celebração dos atos litúrgicos. O povo simples, com pouca instrução, da zona rural ia fortalecendo a sua fé.
O acesso à zona rural continuava precário, principalmente no período chuvoso e as viagens eram cansativas. Pe. Risso adquiriu um caminhão, sempre acompanhado por um dos seus trabalhadores, viajava nele até onde a estrada permitia. Continuava a viagem com os dois cavalos, que iam a carroceria.
Realizava desobrigas, visitava doentes, idosos e celebrava missas, que considerava sua atividade mais importante. As homilias sempre foram norteadas nos padrões litúrgicos. Preocupava-se em levar a mensagem de Jesus Cristo, aos fiéis, de maneira clara e acessível.
Embora não gostasse de estudar quando criança, entendia que a sua missão envolvia ações socioeducativas com as crianças, principalmente as mais pobres. Dedicou-se a educação de crianças com a certeza de que contribuiria com o desenvolvimento dos valores éticos e sociais importantes para o país. Adotou o lema “O povo educado jamais será dominado,” que norteou as suas ações.
Havia um número elevado de crianças em idade escolar fora da rede de ensino público. O Centro Social do Fomento, ao lado da igreja São José, construído com ajuda dos católicos alemães e da Cáritas italiana, abrigava o Clube das Mães. A falta de vagas nas escolas, levou-o a transformar esse local em uma escola, a Unidade Escolar Nossa Senhora do Sagrado Coração. Lá instalou as crianças do bairro que necessitavam do curso primário. Esse colégio depois se tornaria um anexo do Colégio Pinheirense.
O Pe. Risso ainda encontrava tempo para exercer a função de professor no Colégio Pinheirense, num período em que havia falta desse profissional para determinadas disciplinas. Lecionou física, química e biologia para os alunos do segundo grau.
Poucos anos depois, o então prefeito de Pinheiro, Dr. Pedro Lobato, propôs ao Pe. Risso que construísse alguns colégios, na zona rural do município. Após o repasse dos recursos iniciou o trabalho. Ainda não havia concluído as obras e o prefeito pediu-lhe que recuperasse algumas escolas, recém-construídas por determinada empresa, que apresentaram problemas na estrutura física. Também construiu poços amazonenses em algumas delas.
Construiu ou reformou diversos colégios de vários povoados entre eles Aldeia, Angelim, Cacau, Cajarana, Cascudo, Castanheira, Maranhão Novo, Montes Claros, Olho D’Água dos Vieiras, Samaúma, Santa Rita, Santa Sofia, Santa Vitória, São Felipe e Tabocal. Na sede do município construiu as Escola Arimatéia Nunes, no Bairro do Fomento, e a Escola Aurelina Catarina Amorim, no Bairro Ilha Leonor.
O Superior dos MSC, de Roma, visitou Pinheiro e nas ruas conheceu a realidade da cidade e das crianças. Viu crianças desnutridas e em conversa com o vigário Pe. Nicolau estimulou-o a criar jardins de infância cuja principal finalidade era oferecer alimentação às crianças. Segundo ele, não interessava que estudassem, mas que recebessem comida. Comprometeu-se a realizar movimentos entre as paróquias italianas e enviar recursos financeiros para Pinheiro.
Os jardins de infância se multiplicaram na zona urbana e rural. Alguns foram construídos com doações vindas da Itália, outros através de ajuda de amigos e familiares. É costume na Itália, ao falecer um membro da família, esta doar dinheiro para pessoas necessitadas ou instituições.
A educação das crianças tornou-se a sua prioridade. Nos jardins as crianças sempre receberam alimentação equilibrada. O padre sabia da importância dos nutrientes adequados para o desenvolvimento escolar e boa qualidade de vida. Os alimentos de boa qualidade fazem parte do cardápio da merenda escolar. O cardápio é único em todos os jardins e foi elaborado por nutricionista.
Para algumas crianças o alimento que recebem é o principal do dia. Durante período das férias escolares o Pe. Risso fornecia merenda para os alunos da Unidade Escolar Nossa Senhora do Sagrado Coração, no Fomento. As crianças eram vistas, com vasilhas nas mãos, na fila que se formava do lado de fora do colégio.
Vários jardins do “Vovô Risso” como era chamado pelas crianças, funcionam atualmente na sede e na zona rural Pinheiro
Padre Risso tornou-se diretor do Colégio Pinheirense, cargo que exerceu durante 08 anos. No início do ano de 2018 entregou o colégio para a Diocese de Pinheiro.
As despesas com a manutenção dos jardins são elevadas. Para os pagamentos de funcionários, alimentação, manutenção e outros, os pais dos alunos, em Pinheiro, contribuem com uma pequena quantia mensal, mas em Presidente Sarney é bem mais irrisória.
Outros recursos provêm de doações italianas, da Paróquia de Firenze e Minturno. Recebe ajuda do governo federal para a compra da merenda escolar e colaboração do programa Brasil Carinhoso. Vários benfeitores maranhenses também ajudaram os jardins. Algumas escolinhas, na zona rural e urbana, encerraram as suas atividades devido a redução das doações.
Padre Risso tornou-se conhecido por suas ações de caridade e extraordinária capacidade de trabalho. Quando decidia pela realização de uma obra sempre surgia dinheiro. Segundo ele, não lembrava se alguma vez faltou recurso para suas construções. Confiava na Providência Divina que enviava de algum lugar. A ajuda sempre vinha de instituições doadoras e de benfeitores que enviavam recursos financeiros.
Em uma entrevista dada a um jornal local queixou-se da falta de auxilio de políticos e autoridades. Não queria reconhecimento dos governos, mas pedia que ajudassem mais o povo. Colocava-se a disposição dos gestores para realizar construções com a certeza que economizariam muito mais.
Perguntado sobre o que gostaria de fazer mais por Pinheiro disse que sonhava em melhorar as escolas na zona rural e construir mais obras nesses locais. Ansiava por uma vida mais digna para esse povo sofrido e abandonado. Gostaria de possuir mais recursos e saúde para ajudar todos.
Reconhecia que essa população se acostumou só a receber e pouco fazia para melhorar sua qualidade de vida. Desejava maior empenho e participação popular e por isso trabalhou com afinco pela educação das crianças para que aprendessem a lutar pelos seus direitos
Algumas Obras
- JARDINS DE INFÂNCIA NA SEDE E ZONA RURAL;
- PARTICIPAÇÃO ATIVA NO HOSPITAL NOSSA SENHORA DAS MERCÊS;
- ESTRADAS VICINAIS;
- PONTES DE LIGAÇÃO ENTRE POVOADOS DAS CIDADES DA BAIXADA MARANHENSE;
- POÇOS ARTESIANOS EM DIVERSOS BAIRROS E COMUNIDADES;
Sobre Padre Risso, MSC
*Construídas com o apoio da Província Italiana, Benfeitores e Fieis.
*Realizou seu primeiro batizado na capela dos padres no dia 02/02/1961.
* Ganhou seu primeiro afilhado em 06/01/1962 (Rosenilde de Jesus).
Padre Risso nos deixou no dia 09 de março de 2022, mas deixou um legado de amor, coragem, ousadia e muita fé, preparou caminhos e pessoas para assumir e dar continuidade a seu trabalho, desempenhando com a mesma maestria.